O Decano da Universidade Sénior Contemporânea, Sr Porfírio Mendes da Silva, aborda em texto a palestra dada pelo Professor Doutor Daniel Serrão, que teve lugar dia 27 de Fevereiro, no auditório de conferências da USC e que inaugurou o I Ciclo de Palestras PORTO SÉNIOR:
A palestra / conferência deste ilustre cientista no dia 27 de Fevereiro, no salão principal da USC foi, como era previsto, um êxito.
Na mesa, para alem do digno conferencista, tiveram assento os dois directores da Universidade Sénior Contemporânea e, como moderadora, a psicóloga Dr.ª Liliana Vasconcelos.
Subordinada ao tema “ O cérebro humano perde eficiência com a idade?”
Foi uma autêntica aula de anatomia cerebral e demonstrando um tal nível técnico, que não tenho competência para a criticar como gostaria.
Contudo, e consideradas as minhas já confessadas limitações, terei de afirmar que gostei muito da forma encontrada pelo palestrante, para se fazer entender por uma plateia onde, julgo, não teve assento qualquer especialista na matéria versada.
Para este modesto comentador, o ponto mais alto da dissertação, foi atingido quando o professor doutor Daniel Serrão, do alto dos seus oitenta e um anos de idade, com firmeza, e com a eloquência que cinquenta anos de cátedra concedem, afirmou: Todos nós, em qualquer circunstância, já fomos vítimas de acidentes vasculares cerebrais que, de algum modo, afectaram o nosso sistema nervoso central, provocando a extinção de uma maior ou menor quantidade de neurónios.
Pois bem…está cientificamente demonstrado que, dependendo da vontade cerebral do acidentado – do seu querer – complementado pelo esforço e dedicação do fisioterapeuta, os neurónios destruídos podem vir a ser recuperados, isto é; o nosso complexo cérebro tem a capacidade de renovar – de fazer nascer – novos neurónios, que irão ocupar o lugar dos que sucumbiram, quando acontece, por exemplo, quando ocorre um AVC. Ora, tendo em conta que um individuo que atinge a idade sénior está mais susceptível de ser vitimado por um AVC, e sabendo-se que grande parte das recuperações se devem aos seus esforços e daqueles que os ajudaram, fica-nos a certeza que o cérebro humano – independentemente da idade, e por ser um órgão executivo – possui a capacidade de se regenerar.
Por isso, não deve um sénior deixar cair os seus braços e alegar de que não é capaz, Não!... Deve, com toda a tenacidade, insistir, forçando o cérebro – pela insistência – a gerar novos neurónios de modo a que lhe seja possível a aquisição dos novos conhecimentos.
Depois, o professor Serrão, ele próprio um sénior, decidiu falar sobre cuidados paliativos, apoiando-se no que acontece na Inglaterra, onde estes cuidados estão a merecer toda a atenção.
A certo passo, erguendo a voz, proferiu; ninguém tem o direito de limitar o tempo de vida a um ser humano. Pelo contrário; devemos despender todos os cuidados, e carinhos, para que um ser humano doente e por quem a ciência já nada pode fazer, possa terminar os seus dias em paz.
Mais!..
Não devem, a estes seres humanos, quando internados em unidades hospitalares, ser limitados os tempos de visita dos seus familiares e amigos, não; eles devem poder ser visitados a qualquer hora e pelo tempo que for desejado conveniente.
E prosseguiu;
Um dos problemas que afligiam os doentes terminais e os seus cuidadores, eram os banhos, pois teriam, e com elevada dificuldade, que ser usadas no mínimo duas pessoas para virar e lavar os doentes convenientemente.
Hoje, isto está ultrapassado!...Um ascensor de forquilha, perfeitamente adequado, ergue o doente e transporta-o directamente para a banheira onde então é carinhosamente lavado, enxuto, e depois vestido sem qualquer dificuldade.
Hoje, e dou graças a Deus por isso, os cuidados paliativos são uma ciência.
Ao terminar a sua opinião sobre este tão momentoso problema ainda se permitiu brindar-nos com este mimo que, embora parecendo nada ter com cuidados paliativos, ajudou a que terminassem em paz, dois seres humanos.
Em determinado hospital, neste caso em França, estavam internadas na área de doenças terminais, entre outras, duas pessoas de faixas sociais muito diferentes.
A uma delas, um militar de elevada posição, nada faltara, a não ser o conhecimento científico da medicina para travar os efeitos de um cancro…
Aguardava, na paz possível, o seu fim.
A outra, uma mulher do povo, emigrante, portadora de uma doença sem cura conhecida, e que se lamentava constantemente de não poder ir morrer em paz à sua terra.
Pois bem:
O fim do militar, aconteceu quase logo. Aconteceu em paz.
Porém; antes de se finar, manifestou desejo aos seus familiares, que fossem pagas todas as despesas para que a mulher emigrante pudesse, rodeada de todos os carinhos, ir morrer em paz na sua terra.
Foi, de pé, com uma ruidosa e muito sentida, salva de palmas, que o doutor Serrão terminou a sua palestra, permitindo de seguida que lhe fossem feitas perguntas.
Um sénior levantou-se, pediu a palavra e manifestou o desejo de ouvir a opinião do doutor Serrão sobre a Eutanásia.
Agradecendo a interpelação, o doutor, declarou:
Todos conhecem a minha posição sobre tal assunto. Tal como já disse hoje neste salão, ninguém tem o direito de limitar a vida de quem quer que seja, embora eu seja capaz de abrir uma excepção para casos em que um individuo, portador de morte cerebral, e por isso vivendo vegetativamente, tenha meios de declarar que não quer viver mais naquela situação.
Referiu depois várias situações, recentemente relatadas na imprensa diária, às quais teria recusado um sim.
A seguir, um sénior, intelectualmente preocupada, pelo facto de ser capaz de decorar qualquer texto com apenas duas ou três leituras, perguntava ao mestre se isso era bom ou sinal de qualquer distúrbio cerebral.
O mestre, sorrindo de simpatia, opinou que era um bom sintoma e aproveitou para dar os parabéns ao sénior, desejando longevidade aos seus neurónios.
Depois, uma outra sénior que de tão baixo falar e sem microfone, obrigou a que o mestre se deslocasse para junto de si para a poder ouvir, perguntava o que poderia a medicina fazer a um doente que sendo portador de mal incurável, não tivesse meios de declarar a sua vontade para que lhe fosse permitido deixar de viver quando desejasse.
O mestre calmamente e com bondade visível, limitou-se a repetir os seus conceitos, quanto à possibilidade de um ser humano limitar de algum modo a vida de outro ser humano.
Depois de algumas palavras de apreço dos directores da Universidade e da Coadjuvante do Mestre, uns singelos brindes fecharam esta tarde memorável, que estou certo todos recordarão durante muito tempo.
Porem, o “pano” só desceria completamente, quando todo o “grupo” enérgica e entusiasticamente, gritou…é rriá…érrié…érri…érrió…érriú…
O Mestre, comovido, apenas pode dizer: Não me façam chorar!...
Porfírio Mendes da Silva
27 de Fevereiro de 2009
Na mesa, para alem do digno conferencista, tiveram assento os dois directores da Universidade Sénior Contemporânea e, como moderadora, a psicóloga Dr.ª Liliana Vasconcelos.
Subordinada ao tema “ O cérebro humano perde eficiência com a idade?”
Foi uma autêntica aula de anatomia cerebral e demonstrando um tal nível técnico, que não tenho competência para a criticar como gostaria.
Contudo, e consideradas as minhas já confessadas limitações, terei de afirmar que gostei muito da forma encontrada pelo palestrante, para se fazer entender por uma plateia onde, julgo, não teve assento qualquer especialista na matéria versada.
Para este modesto comentador, o ponto mais alto da dissertação, foi atingido quando o professor doutor Daniel Serrão, do alto dos seus oitenta e um anos de idade, com firmeza, e com a eloquência que cinquenta anos de cátedra concedem, afirmou: Todos nós, em qualquer circunstância, já fomos vítimas de acidentes vasculares cerebrais que, de algum modo, afectaram o nosso sistema nervoso central, provocando a extinção de uma maior ou menor quantidade de neurónios.
Pois bem…está cientificamente demonstrado que, dependendo da vontade cerebral do acidentado – do seu querer – complementado pelo esforço e dedicação do fisioterapeuta, os neurónios destruídos podem vir a ser recuperados, isto é; o nosso complexo cérebro tem a capacidade de renovar – de fazer nascer – novos neurónios, que irão ocupar o lugar dos que sucumbiram, quando acontece, por exemplo, quando ocorre um AVC. Ora, tendo em conta que um individuo que atinge a idade sénior está mais susceptível de ser vitimado por um AVC, e sabendo-se que grande parte das recuperações se devem aos seus esforços e daqueles que os ajudaram, fica-nos a certeza que o cérebro humano – independentemente da idade, e por ser um órgão executivo – possui a capacidade de se regenerar.
Por isso, não deve um sénior deixar cair os seus braços e alegar de que não é capaz, Não!... Deve, com toda a tenacidade, insistir, forçando o cérebro – pela insistência – a gerar novos neurónios de modo a que lhe seja possível a aquisição dos novos conhecimentos.
Depois, o professor Serrão, ele próprio um sénior, decidiu falar sobre cuidados paliativos, apoiando-se no que acontece na Inglaterra, onde estes cuidados estão a merecer toda a atenção.
A certo passo, erguendo a voz, proferiu; ninguém tem o direito de limitar o tempo de vida a um ser humano. Pelo contrário; devemos despender todos os cuidados, e carinhos, para que um ser humano doente e por quem a ciência já nada pode fazer, possa terminar os seus dias em paz.
Mais!..
Não devem, a estes seres humanos, quando internados em unidades hospitalares, ser limitados os tempos de visita dos seus familiares e amigos, não; eles devem poder ser visitados a qualquer hora e pelo tempo que for desejado conveniente.
E prosseguiu;
Um dos problemas que afligiam os doentes terminais e os seus cuidadores, eram os banhos, pois teriam, e com elevada dificuldade, que ser usadas no mínimo duas pessoas para virar e lavar os doentes convenientemente.
Hoje, isto está ultrapassado!...Um ascensor de forquilha, perfeitamente adequado, ergue o doente e transporta-o directamente para a banheira onde então é carinhosamente lavado, enxuto, e depois vestido sem qualquer dificuldade.
Hoje, e dou graças a Deus por isso, os cuidados paliativos são uma ciência.
Ao terminar a sua opinião sobre este tão momentoso problema ainda se permitiu brindar-nos com este mimo que, embora parecendo nada ter com cuidados paliativos, ajudou a que terminassem em paz, dois seres humanos.
Em determinado hospital, neste caso em França, estavam internadas na área de doenças terminais, entre outras, duas pessoas de faixas sociais muito diferentes.
A uma delas, um militar de elevada posição, nada faltara, a não ser o conhecimento científico da medicina para travar os efeitos de um cancro…
Aguardava, na paz possível, o seu fim.
A outra, uma mulher do povo, emigrante, portadora de uma doença sem cura conhecida, e que se lamentava constantemente de não poder ir morrer em paz à sua terra.
Pois bem:
O fim do militar, aconteceu quase logo. Aconteceu em paz.
Porém; antes de se finar, manifestou desejo aos seus familiares, que fossem pagas todas as despesas para que a mulher emigrante pudesse, rodeada de todos os carinhos, ir morrer em paz na sua terra.
Foi, de pé, com uma ruidosa e muito sentida, salva de palmas, que o doutor Serrão terminou a sua palestra, permitindo de seguida que lhe fossem feitas perguntas.
Um sénior levantou-se, pediu a palavra e manifestou o desejo de ouvir a opinião do doutor Serrão sobre a Eutanásia.
Agradecendo a interpelação, o doutor, declarou:
Todos conhecem a minha posição sobre tal assunto. Tal como já disse hoje neste salão, ninguém tem o direito de limitar a vida de quem quer que seja, embora eu seja capaz de abrir uma excepção para casos em que um individuo, portador de morte cerebral, e por isso vivendo vegetativamente, tenha meios de declarar que não quer viver mais naquela situação.
Referiu depois várias situações, recentemente relatadas na imprensa diária, às quais teria recusado um sim.
A seguir, um sénior, intelectualmente preocupada, pelo facto de ser capaz de decorar qualquer texto com apenas duas ou três leituras, perguntava ao mestre se isso era bom ou sinal de qualquer distúrbio cerebral.
O mestre, sorrindo de simpatia, opinou que era um bom sintoma e aproveitou para dar os parabéns ao sénior, desejando longevidade aos seus neurónios.
Depois, uma outra sénior que de tão baixo falar e sem microfone, obrigou a que o mestre se deslocasse para junto de si para a poder ouvir, perguntava o que poderia a medicina fazer a um doente que sendo portador de mal incurável, não tivesse meios de declarar a sua vontade para que lhe fosse permitido deixar de viver quando desejasse.
O mestre calmamente e com bondade visível, limitou-se a repetir os seus conceitos, quanto à possibilidade de um ser humano limitar de algum modo a vida de outro ser humano.
Depois de algumas palavras de apreço dos directores da Universidade e da Coadjuvante do Mestre, uns singelos brindes fecharam esta tarde memorável, que estou certo todos recordarão durante muito tempo.
Porem, o “pano” só desceria completamente, quando todo o “grupo” enérgica e entusiasticamente, gritou…é rriá…érrié…érri…érrió…érriú…
O Mestre, comovido, apenas pode dizer: Não me façam chorar!...
Porfírio Mendes da Silva
27 de Fevereiro de 2009
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